terça-feira, 15 de maio de 2012

FALANDO DE PERDÃO

Perdoar... perdoar... perdoar...
O que é isto?
Perdoar... desculpar... absolver...
Vale a pena perdoar?
Perdoar... poupar... remitir as faltas...
É nobre perdoar?
Quem tem rancor não perdoa.
Quem perdoa não sente rancor.

Perdoar é não sentir raiva, é abster-se do ódio.
Perdoar é a escolha de privar-se da mágoa. É impedir a presença da raiva, do ódio, do rancor.
Não é magnífico?
Não é magnífico o prazer de aliviar alguém?
Não é magnífico proporcionar consolo a quem agrediu ou causou dor?
Conceder o perdão é propiciar clemência, indulgência, lenitivo, alívio, consolo.
Perdoar é importante, sim, e muito. É muito interessante para o equilíbrio interior fazer as pazes com quem nos magoou e com a nossa pessoa. Isto é perdoar. É fazer as pazes, pois o perdão alivia. Entretanto, o perdão é um dos conceitos mais difíceis de pôr em prática. E também de ser entendido.

O perdão não contribui para a injustiça? Quem causa o mal merece ser perdoado? Quem causa dano não merece perdão, muitos dizem e ouvem. Aqueles que nos feriram, se perdoados, não voltarão a nos ferir? Aqueles que nos magoaram não vão se aproveitar da nossa benevolência? Muitas vezes, o desgosto com os prejuízos e as ofensas não se reduz com o passar do tempo. Ficamos enfurecidos com nossos pais pelos erros cometidos durante a nossa infância. Ficamos revoltados com quem já abusou da nossa boa-fé. Ficamos irritados com quem nos aborreceu de alguma forma em algum lugar.
O que fazemos sempre e geralmente?
Guardamos a ferida dentro da alma como tesouro precioso, para tirá-la da memória de vez em quando e fitá-la, absortos, como se fosse um álbum de fotografias, uma jóia de vitrine. Nesse momento, passamos outra vez pela mente, o filme do episódio imperdoável, e o revivemos. O desgosto com o passado se alimenta de grandes porções do presente. Isto é o rancor, a mágoa, a raiva.
E por que valeria a pena perdoar?
Por uma questão religiosa?
Por altruísmo?

Há alguma questão que seja impossível de desculpar em um mundo tão absolutamente cruel?
É possível dominar o perdão? O que significa, verdadeiramente, esse sentimento transformador?
“Os aviões do rancor se convertem em fonte de estresse e, muitas vezes, o resultado é um choque”, afirma Fred Luskinn, conselheiro, psicólogo da saúde e diretor do Projeto do Perdão, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Em seu guia O poder do perdão, que reúne casos e estudos tirados desse programa, Luskin explica que os problemas não solucionados são como aviões que voam dias e semanas sem parar e sem pousar, consumindo recursos que podem ser necessários em caso de emergência. “Perdoar é a tranquilidade que se sente quando os aviões pousam”.

Perdoar não é aceitar a crueldade. Perdoar não é esquecer que algo doloroso aconteceu. Perdoar não é aceitar o mau comportamento. Perdoar não significa reconciliar-se com o agressor.
O perdão é importante para quem perdoa, não para quem ofendeu.
Aprende-se a perdoar como se aprende outras coisas. Ao perdoar, admitimos que nada se pode fazer pelo passado, e isso permite que nos libertemos dele. Perdoar ajuda os aviões a pousar para que sejam feitos os ajustes necessários.

O perdão concedido por nós serve para relaxarmos e não indica que aceitamos algo injusto, mas significa não sofrer eternamente pela ofensa ou pela agressão.
Mas, e se a agressão tiver sido grave demais, como perdoar ao agressor?
Qual o segredo para agir com tanta integridade?
Resiliência é a palavra certa para o contexto.

Resiliência, um conceito psicológico que define a capacidade de superar as adversidades e ser forte durante as crises. A resiliência é a reação positiva. É um espaço de liberdade interior que permite não se submeter às feridas.
Resiliência é a forma positiva de reagir às adversidades.
Quem consegue superar tragédias ou sair de períodos difíceis de dor emocional pode abandonar o papel de vítima e começar uma vida nova.
Você já se perguntou por que algumas pessoas, oprimidas pelo desamparo na infância, caem na delinquência e se tornam agentes de agressão, ao passo que outras se recuperam, tornam-se pessoas de bem e são felizes, fortes, prósperas e bem sucedidas?
A resposta é a resiliência. E, para ser resiliente é necessário saber perdoar.

Um dos ingredientes necessários à resiliência é o perdão.
Sem perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade.
Sem perdão não conseguimos ser flexíveis e resilientes. Algumas pessoas conservam a dor para mostrar ao mundo como foram maltratadas, e não querem perceber que assim se prejudicam.
Ao mundo, não interessa o nosso passado, só o que somos capazes de fazer e dar agora. Quando nos apegamos à dor antiga, a autocomiseração embota a capacidade de dar e, quando assumimos o papel de mártires, ficamos à espera que alguém resolva milagrosamente a nossa vida.

O perdão nos ajuda a reconhecer e admitir que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita.
O perdão é também proteção contra as doenças.
Além da saúde espiritual, existem várias provas de que deixar para trás a hostilidade protege a saúde física. Um estudo chamado Perdão e Saúde Física, realizado pela Universidade do Wisconsin, mostrou que aprender a perdoar pode ajudar indivíduos de meia-idade a evitar doenças cardíacas. Nessa pesquisa foi descoberto que quanto maior a capacidade de perdoar, menos problemas nas artérias coronárias surgem no decorrer da vida. Por outro lado, quanto menor a capacidade de perdoar, mais frequentes os episódios de doenças cardiovasculares.

Em relação à recordação das feridas, eis aqui outra informação importante: uma pesquisa indicou que pensar cinco minutos em algo que provoca agitação, raiva ou desgosto pode diminuir a VFC – variabilidade da frequência cardíaca – parâmetro da saúde do sistema nervoso que mostra a flexibilidade do sistema cardiovascular.
Para enfrentar e reagir ao estresse em boas condições, o coração precisa de flexibilidade. O mesmo estudo mostrou que esses cinco minutos de pensamento negativo desaceleram a reação do sistema imunológico, que defende o organismo.
Os benefícios do perdão – aqueles que protegem o corpo e os que aliviam a alma – não se aplicam somente aos outros, mas também a nós mesmos. Quando, apesar dos erros e culpas, somos capazes de nos perdoar e deixar de nos sentir merecedores de castigo, cooperamos com o nosso bem-estar íntimo.
Perdoar não é esquecer nem persistir no erro. É começar de novo, com a experiência adquirida, sem os rancores a sobrevoar e confundir as possibilidades do presente.
O perdão não é algo que ofertamos ao outro, mas um presente vital que damos a nós mesmos. 

Além disso, se não perdoamos as pessoas que nos magoam, não podemos ser perdoados por Deus:

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. Essa é a mensagem bíblica de Mateus cap. 6 versos 9 a 15.

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