sábado, 16 de outubro de 2010

A DESCARTABILIDADE NOS RELACIONAMENTOS

A descartabilidade dos relacionamentos - ficar, namorar e casar


A fluidez dos relacionamentos contemporâneos e a velocidade em que um número exorbitante deles tem se desfeito é uma marcante característica de nossa pós-modernidade. O que poderia explicar o fracasso de tantos relacionamentos e casamentos em nossos dias? E o que dizer do fenômeno do "ficar", tão comum principalmente entre os jovens?

A Sociologia fornece algumas ferramentas que nos auxiliam a pensar a questão. O materialismo histórico, de Karl Marx, pontua que são as condições materiais da vida concreta do homem que moldam a sua forma de ser e pensar. Para ele, a produção de idéias está diretamente ligada à atividade material humana. A consciência é um produto social como um reflexo do contexto social mais próximo.

Isso significa, no presente caso, que podemos encontrar na vida concreta, material, os elementos que moldam nossa forma de conceber e viver os relacionamentos.

A partir desse apontamento, comecemos por observar que nossa sociedade pode ser caracterizada como a "sociedade dos descartáveis". Estamos imersos em uma "cultura da descartabilidade", do consumo rápido e frenético.

O refrigerante que compramos vem em uma embalagem descartável. As fraldas dos bebês são descartáveis. Os aparelhos eletrônicos têm um tempo de vida reduzido, para que sejam descartados e substituídos dentro de poucos anos ou meses, devido ao alto custo de uma eventual manutenção ou à sua obsolescência precoce.

Quase não se conserta mais as coisas que se estragam, a não ser produto muito caro, como carro, por exemplo. No mais, preferimos comprar tudo novo. Quase não freqüentamos mais os sapateiros, e raramente vamos aos técnicos ou alfaiates. Tudo é descartável. Tudo muda rápido. Tudo deve ser usado, aproveitado para em seguida ser descartado e substituído.

Essa condição material de “descartabilidade” atingiu o próprio homem e seus relacionamentos. Os relacionamentos estão se tornando descartáveis. Se não dá certo, ele é descartado. Não se tenta consertar, pois não vale à pena pagar o preço por isso. Arruma-se um novo parceiro então.

E essa correlação é ainda mais nítida naquele tipo de relacionamento chamado "ficar", que talvez seja a máxima expressão dessas descartabilidades. "Ficar" significa usar o outro e descartá-lo, da mesma forma que se é usado e descartado. O consumo descompromissado se revela nesse ato, assim como a transformação do homem em mercadoria, própria do capitalismo.

A descartabilidade dos relacionamentos está diretamente vinculada à descartabilidade das mercadorias no capitalismo, sendo que este de forma semelhante ao Rei Midas da mitologia grega, o qual transformava em ouro tudo o que tocava, transforma em mercadoria tudo aquilo em que põe as mãos.


  

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